Diário #7: O eu que os outros definem
[ou Sem os outros, não existimos]
Dia 1
Gondomar - Monasterio
Dia 2
Monasterio - Algeciras
Dia 3
Algeciras - El Aouamra
Dia 4
El Aouamra - Marrakech
Dia 5
Marrakech - Tan-tan Plage
Dia 6
Tan-tan Plage - Marsa
Dia 7
Marsa - Dakhla
Dia 8
Dakhla - Birgandouz
Dia 9
Birgandouz - Nouakchott
Dia 10
Nouakchott - Saint Louis
Dia 11
Saint Louis - Kaolack
Dia 12
Kaolack - Zinguichor
Dia 13
Zinguichor - Catió

O percurso de hoje fez-se praticamente numa única estrada, quase sempre em linha recta. Uma viagem como esta faz-se com muitos quilómetros, mas, em introspecção, a distância percorrida é muito maior. Isto porque a introspeção pode apresentar-se de muitas formas, mas nunca em linha recta.

Olhar para dentro é tão importante como olhar para fora, mas, muitas vezes, focamo-nos apenas nas fronteiras. Para olhar para dentro, temos de sair de dentro de nós; para olhar para fora, temos de caminhar para longe de onde estamos.

Continuamos a recolher na Blatt assinaturas e mensagens das pessoas com quem nos vamos cruzando e conversando. Hoje, um guarda escreveu “Paix pour tout le monde” (Paz para todo o mundo). Disse-lhe que se encontrasse a paz, voltaria para partilhá-la com ele. Ficou muito orgulhoso quando não encontrou nenhuma menção à palavra Paz na Blatt, mas ficou muito preocupado porque não tinha a certeza se tinha escrito a palavra correctamente. Não me quis alongar muito, mas, da mesma forma que a paz é um caminho, a paz nunca se escreve mal. À noite, surpreendemente, encontramos a paz para todo o mundo no “Monumento comemorativo símbolo da Paz”.

A paz é a paz é a paz.

O mundo interior é muito mais profundo e extenso do que o mundo exterior. Dentro de cada um de nós, para além da ilusão da nossa própria definição, reside a representação daquilo que nos é exterior e, por isso, dentro de nós, está contido todo o mundo que conhecemos. É sobre esta representação que vamos construindo interpretações daquilo que nos rodeia.

Por outro lado, também nós somos representações nos universos daqueles que connosco interagem. No final, somos uma mistura de todas as formas de como somos representados. Mas, apenas poderemos validar como representamos e somos representados, comunicando. Precisamos de aprender a comunicar melhor. Precisamos aprender a saber ouvir para melhor perceber o outro e para que este nos compreenda. Para ouvir o outro é essencial saber afastar-nos do nosso mundo interior e dos nossos preconceitos. Porque se ouvirmos apenas a partir de nós, o nosso mundo interior engolirá todo os outros e, por sua vez, quem somos.

Sem os outros, não existimos.

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