Diário #12: O Deus do plástico
[ou A finitude que não se esconde]
Dia 1
Gondomar - Monasterio
Dia 2
Monasterio - Algeciras
Dia 3
Algeciras - El Aouamra
Dia 4
El Aouamra - Marrakech
Dia 5
Marrakech - Tan-tan Plage
Dia 6
Tan-tan Plage - Marsa
Dia 7
Marsa - Dakhla
Dia 8
Dakhla - Birgandouz
Dia 9
Birgandouz - Nouakchott
Dia 10
Nouakchott - Saint Louis
Dia 11
Saint Louis - Kaolack
Dia 12
Kaolack - Zinguichor
Dia 13
Zinguichor - Catió

Hoje foi o dia em que passamos mais fronteiras, isto porque, ao contrário de há 3 anos, decidimos passar pela Gâmbia. A Gâmbia é uma pequena língua à volta do rio Gâmbia, inteiramente contida no Senegal. A tentação de não escolher o percurso mais rápido é porque, seguindo este percurso, temos de passar a fronteira Senegal – Gâmbia, percorrer uns quilómetros e voltarmos a sair pela fronteira Gâmbia – Senegal. Isto implica 4 zonas de alfândegas e uma quantidade de processos burocráticos inacreditáveis. É difícil saber se a nossa opção foi a melhor, mas em Portugal, com a quantidade de selos que recolhemos, teríamos direito a, pelo menos, a um faqueiro.

A entrada na Gâmbia foi histórica porque fui, durante algum tempo, o detentor da pessoa com mais infrações da Gâmbia por metro. Isso porque cerca de 200 m depois de entrar na Gâmbia, só vi um sinal de desvio obrigatório depois de o passar. De imediato, as autoridades, muito atentas, fizeram sinal para encostarmos. Já estava a preparar o meu Francês chorão para me perdoarem uma eventual multa, mas na Gâmbia, ao contrário do Senegal, é necessário o Inglês chorão. O guarda foi muito simpático, deixou-nos passar sem multa e ainda deixou na Blatt a nossa primeira assinatura Gambiense. Quando as pessoas percebem o nosso objetivo, a nossa vida fica sempre facilitada.

África relembra-me a minha finitude. Por aqui, a morte e a dor não se escondem e, por isso valorizamos mais facilmente o que temos. Mesmo que se tenha pouco. Vivemos todos um tempo finito no nosso planeta, mas fazemo-lo como se fossemos imortais. Como se isso não bastasse, esperamos por salvadores, sejam eles reis, profetas, políticos, celebridades ou deuses para resolverem problemas que são da nossa responsabilidade.

Um dos problemas que conhecemos, mas que é difícil perceber o alcance sem estar em países em que a recolha de lixo e a reciclagem é inexistente, é o do plástico. Os maiores problemas são aqueles que estão escondemos. Aqui, sabemos se estamos a chegar a uma cidade, não pelas placas toponímicas, mas pelas grandes quantidades de plástico que aparece.

Fomos dormir a Zinguichor, um sítio onde, mesmo em Fevereiro, se festeja o Natal. E está bem, todos sabemos que o Natal é quando quisermos. Esta noite deitamo-nos com a esperança que esta tenha sido a última paragem antes de Catió.

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