Diário #1: A importância do primeiro passo
[ou A importância dos passos seguintes]
Dia 1
Gondomar - Monasterio
Dia 2
Monasterio - Algeciras
Dia 3
Algeciras - El Aouamra
Dia 4
El Aouamra - Marrakech
Dia 5
Marrakech - Tan-tan Plage
Dia 6
Tan-tan Plage - Marsa
Dia 7
Marsa - Dakhla
Dia 8
Dakhla - Birgandouz
Dia 9
Birgandouz - Nouakchott
Dia 10
Nouakchott - Saint Louis
Dia 11
Saint Louis - Kaolack
Dia 12
Kaolack - Zinguichor
Dia 13
Zinguichor - Catió

Acredito que só há uma viagem. A nossa vida é a nossa única viagem. Numa necessidade constante que temos de etiquetar tudo o que fazemos, vivemos cortando o nosso tempo em pequenos pedaços que vamos classificando. Nessa compartimentação, antecipamos a valorização de momentos que ainda não aconteceram. Se fossemos um deserto, seria como agarrar-nos a grãos de areia, esperando que chova sobre eles.

No entanto, seria ingénuo acreditar que todos os passos têm o mesmo valor. Em cada projeto, o primeiro passo é o mais importante. Alguns passos são feitos a medo, pousando o pé timidamente; outros são firmes, embalados pela nossa confiança ou ignorância; alguns passos são dados para trás, invertendo a nossa direção; e alguns são dados com a esperança de mudar o destino. Mudar destinos com um passo é como dar o dobro dos passos, mas cortando cada passo pela metade.

Este percurso, que iniciamos hoje, não parte de Gondomar, mas tem como ponto de partida a mortalidade infantil. Mais de 5 milhões de crianças, todos os anos, morrem antes de chegar ao seu 5.º aniversário, sendo as três maiores causas a nível mundial a malária, a pneumonia e a diarreia. Ninguém duvida que podemos fazer bem melhor.

Esta viagem tem como destino o Centro de Educação Especial e Terapêutica da “Na Rota dos Povos” que, com a carrinha adaptada que levamos, dará apoio gratuito em Catió, cidade que fica no sul da Guiné-Bissau, a 40 crianças com diversidade funcional, nas vertentes do diagnóstico e tratamento, da educação e da alimentação. Numa espécie de princípio da incerteza de Heisenberg aplicado às viagens, também se pretende que esta viagem seja um contributo para (re)pensar a Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global, alertando para a discussão de temáticas como o Desenvolvimento Sustentável, a Pobreza, a Interculturalidade, a Educação Ambiental e o Voluntariado.

Não quero de forma alguma sobrevalorizar a importância deste caminho, muitas crianças fazem percursos bem mais difíceis, todos os dias, só para irem à escola, mas para mim, uma pessoa “medricas” e com poucas competências de viajante, esta é uma viagem que se faz em desconforto.

Considero que é importante mostrarmos aos nossos jovens que muitas vezes o caminho se faz com medo, e que é normal ter medo. Nos momentos mais importantes das nossas vidas, sentimos medo. Na escolha de um curso, numa mudança de emprego, ou, às vezes, até para convidar alguém para ir ao cinema.

Tenho muito medo de falhar.

Para combater o medo do primeiro o passo, o segundo passo passa a ser o mais importante: o da preparação. (Haverá alguma contradição neste texto?) É o passo que demoramos mais tempo a pousar. Às vezes é tão lento que parecemos parados. Faz-se inspirando, expirando e suspirando muitas vezes. É durante este passo que ouvimos muitas vezes para acelerar, mas para trás.

Finalmente, o passo mais importante é o que damos com o coração. Este é um passo que nunca se faz sozinho e é o maior passo que se pode dar. Muito obrigado a todos aqueles que estão a dar este passo comigo 🚑💕💕

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