O caminho de hoje foi uma estranha viagem pelo tempo e pelo espaço. Um tempo que teima em transformar o espaço do destino numa uma nova partida. Isso porque esquecemo-nos que sempre que chegamos, voltamos a partir. Essa ilusão faz-nos construir as nossas vidas sobre o vazio das chegadas e dos objectivos.
A paisagem que fomos vendo foi repetindo-se com pequenas variações de intensidade, mas as povoações terminam e começam sempre da mesma forma; com o lixo, e obviamente o seu cheiro. O lixo é atirado para o mais longe que podem, mas o lixo nunca pode ser atirado para muito longe. Talvez por ser difícil carregar. Assim, acumula-se sempre perto de nós.
As crianças voltaram a assombrar o nosso caminho com os seus peditórios, fazendo com que o ar seja cada vez mais pesado e irrespirável. Que mundo é esse que permite que mais de cinco milhões de crianças por ano morram, muitas vezes de causas evitáveis. Malária, pneumonia e diarreia. Como se pode chegar a algum lado assim? Sei que eventualmente essas crianças que abandonamos não serão as mesmas que nos pedem agressivamente algo que não necessitam. O poder da indiferença é provavelmente o maior flagelo dos nossos dias.
O nosso mundo apodrece mais um pouco sempre que uma criança pede dinheiro. Mas será que não estamos a deixar apodrecer o mundo quando colocamos à frente das "nossas" crianças tanto lixo que não necessitam? Construímos fronteiras de outro tipo de lixo junto a elas. Um lixo bem pior, um que não cheira mal.
Com tudo isso, não consigo deixar de pensar que eu gostaria de ter dado os meus lápis de cor a quem realmente os quereria. Novamente o pensamento do "dar", quando nada é importante quando não há partilha.
Voltamos a terminar um dia a conduzir de noite. Algo que tínhamos definido nunca fazer. Talvez consiga aprender algo com isso.
Se correr tudo bem, já só nos falta uma etapa. Esperemos que a partir deste destino, possamos finalmente começar a partilhar.
Obrigado, mais uma vez, pelo vosso apoio que tem sido o verdadeiro combustível desta viagem 🚑💕💕