Estamos quase a entrar no Saara Ocidental. Aqui as planícies estendem-se até se encostarem ao céu, empurrando-o, obrigando-o a dobrar-se para trás. O céu azul contrasta com a areia que brilha como se tivesse luz própria. Às vezes em cores de ouro, outras vezes, em cores de açúcar queimado.
As dunas invadem a estrada fazendo-se passar por fumo e água, serpenteando sob as nossas rodas, transformando-se em caminho.
O caminho não tem sido fácil. Mas cada vez mais, sinto a sorte que temos. Sempre que parámos, conversamos com quem nos cruzamos. A comunicação é essencial, principalmente para quem não fala a mesma língua. O Jeep C. Quim fala muito por nós e muitos falam connosco deixando uma lembrança escrita no nosso carro.
Hoje foi o primeiro dia em que fomos parados pela polícia. Praticamente só foi para nos desejar uma boa viagem.
Não sou das pessoas que acreditam que tudo acontece por um motivo. Mas nesta viagem, tudo tem acontecido por um motivo. Amanhã vamos tentar perceber porque temos baratas no quarto, as paredes têm sangue e para que serve um balde estranho que temos no quarto de banho.
Hoje deito-me a pensar que vivemos num mundo onde usamos demasiadas vezes a terceira pessoa do plural. Há demasiado "eles" no nosso discurso e muito pouco "nós" 🚑💕💕