Hoje na biblioteca “Na Rota dos Povos” abri uma revista da National Geographic. Foi uma revista que me chamou a atenção porque é uma edição que tenho em Portugal. Ao folhear a revista encontrei dois trevos de 4 folhas. Sem querer dar grande significado a este encontro, o reconhecimento da importância do factor sorte na vida foi das coisas que mais me mudou nos tempos mais recentes.
Não estou a retirar a imensa valorização do trabalho e do esforço no sucesso, mas apenas a reconhecer que, mesmo com todo o empenho, há muito que pode correr mal. Alguns problemas mais sistémicos como a corrupção, o funcionamento caótico das instituições, algumas determinações genéticas como o nosso sexo ou a nossa pigmentação, ou problemas mais pontuais, como o aparecimento de um problema físico, algum acontecimento pessoal que nos perturbe, entre tantas outras coisas, podem fazer toda a diferença.
Daniel Kahneman, et al., define o “Loss aversion” como algo que nos impede de avançar com determinada acção porque temos receio de ficarmos pior do que se não tivéssemos feito nada. De certa forma, o reconhecimento da sorte em muito das coisas que tenho, liberta-me porque sinto que parte do que tenho, não é totalmente meu. Coisas simples, como alguém ter acreditado que eu seria uma melhor opção para certa função do que a próxima pessoa na lista, conhecer alguém com determinado conhecimento para eu conseguir resolver certo problema, ter saído uma questão num exame sobre uma matéria que eu dominava em vez de algo que teria maior dificuldade em responder, ou até carregar nos botões certos da calculadora sem cometer nenhuma falha.
Perceber que o mundo tem muito de aleatório ajuda-nos a sermos mais flexível com as nossas falhas. Sem retirar a responsabilidade das nossas acções, permite-nos perder o medo de muitas vezes, admitirmos que não somos grande coisa.