O alinhamento da casa
[ou O valor absoluto do que é relativo]

Os problemas das nossas vidas são, infelizmente, relativos. Se os problemas tivessem valor absoluto, seriam muito mais fáceis de resolver. Poderíamos ordená-los por importância, deixando apenas para discussão a ponta por onde deveríamos começar. Certamente teríamos como novo problema termos de justificar muitas das acções que tomamos, mas acredito que seria o menor dos nossos problemas. Esse iria, inevitavelmente, para uma das pontas.

Na Guiné-Bissau, como acredito que aconteça na maior parte de África, o centro gravítico do espaço-tempo aproxima-se do sítio onde estamos, e muito próximo do presente. Eu, como melodramático, tenho a tendência de procurar o presente olhando para o passado, enquanto que os sonhadores procuram-no no futuro. Quando se partilha o pouco que tem, o futuro de um, passa a ser o presente de outro. Talvez por isso, aqui, a noção de tempo é diferente. O futuro é uma espécie de matrioska: um presente que é um presente que é um presente que é um presente.

Vivemos uma fase de grande instabilidade em todo o mundo. A situação é muito grave e só nos unindo na separação vamos poder voltar a estarmos juntos. No entanto, é essencial fazermos memórias. Não podemos voltar a nascer todos os dias iguais.

Na Guiné-Bissau, quando alguém começa uma casa, os futuros vizinhos, que são os do presente, aparecem para ajudar e contribuir com algo. A vizinhança é a primeira família. Quando ultrapassarmos esta fase, no futuro, é importante aprender que temos que ajudar os nossos vizinhos. Mas como dizia Renato Russo, o futuro não é mais como era antigamente. O futuro, acredito, já começou.

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