A maior doença somos nós
[ou A indiferença é a pior das quarentenas]

Deixamos morrer uma criança ou jovem adolescente a cada cinco segundos. Deixamos morrer 15 000 crianças com menos de cinco anos por dia. Mais de cinco milhões por ano. Meio Portugal de crianças. Dizem que as três maiores causas destas mortes são a malária, a pneumonia e a diarreia. Mas isso não é verdade. A causa destas mortes somos nós, que continuamos a permitir que morram de formas perfeitamente evitáveis.

Na Guiné-Bissau, uma em cada doze crianças não chega ao seu quinto aniversário. Estatísticas duras, mas que não significam nada até estarmos perto delas. Quando acontecem perto de nós, um único destes números ganha um peso capaz de nos esmagar; um único destes números é capaz de nos rasgar ao meio.

Ontem escrevia que cada sorriso de uma criança era a esperança de um perdão pelo que ainda nos falta fazer. Mas o ar Africano, que ilusoriamente estava a tornar-se mais leve, voltou a mostrar-se como é, pesado e sufocante. Escrevia ainda que quando gostamos de alguém, essa pessoa ao afastar-se, leva parte de nós. Passamos a viver inquietos pela ânsia de voltarmos a ser um só. Quando gostamos de uma criança que se apaga, sabemos que nunca mais voltamos a ser completos.

Até quando iremos fechar-nos sobre as nossas curtas visões e omitir-nos das nossas responsabilidades para com o próximo?

A indiferença é a pior das quarentenas.

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