O silêncio do amanhã que já passou

A Guiné-Bissau distorce a noção de tempo. O amanhã é um dia que nunca se sabe quando vai acontecer. Às vezes é hoje, outras vezes, dificilmente chegará. Muitas das vezes, o amanhã até chega antes de hoje.

Muitos dos problemas, que o mundo mais eléctrico sente, crescem de vivermos atormentados com a ânsia de chegarmos a um máximo de lugares. Um querer ser tudo, que muitas vezes resulta em nada. Para maximizar os destinos tornamos frenética a nossa velocidade. A velocidade é a razão entre distância e tempo. Mas o tempo ainda não sabemos moldar. Sobra a distância.

Se colocarmos o que é importante perto de nós, não necessitamos de tanto caminho. Um arrumar do essencial. Nada é verdadeiramente nosso; só temos aquilo que abraçamos.

Uma das situações mais bonitas e que mais me tem tocado o coração, em Catió, acontece quando crianças me dão a mão só para fazerem um pouco do caminho comigo, normalmente ao voltarmos da escola. Na maior parte das vezes, até caminhamos em silêncio, que frequentemente estrago pela minha incapacidade de passar o amanhã para hoje, e apreciar aquela dádiva de quem ensina com o sorriso do momento.

Diário anterior
Diário seguinte