Aprender a sorrir com o coração

Nem todo o mundo sorri da mesma forma. Até recentemente, estava habituado a sorrir contorcendo os meus lábios, e nalgumas situações, sorrindo também com os meus olhos. Desde que entramos na Guiné-Bissau, estou a aprender que também é possível sorrir com o coração. É um sorriso honesto, mas apertado. É um dar mais do que o que se tem. É um avançar lentamente. Como se fossemos árvores. É um crescer de raízes que estabilizam, mas que alastram suavemente. Talvez por isso, as árvores sejam tão bonitas cá.

Já faz quase uma semana que estou em Catió e só hoje consegui fazer dia. Isto é, dormir, acordar, fazer refeições e, adormecer. Tudo num único dia.

Tudo se faz aos bocadinhos. Dividir para conseguir. Bastante diferente do objectivo de conquistar a que estamos habituados. Cada banca do mercado tem na sua extensão pouco mais do que habitualmente trago para casa. Meia dúzia de tomates que se comportam como cereja, quatro ou cinco laranjas, que afinal são limões, ou três ou quatro quiabos. Poucas coisas, mas que sabem a muito.

O calor tem sido um dos grandes obstáculos. Faz com que o ar se torne sólido, a comida líquida, os líquidos vapor, o sono leve, e o corpo pesado.

A Sofia e eu começamos o nosso trabalho, por coincidência, no mesmo dia. Foi muito giro passar pelo hospital, deixá-la lá e depois seguir o meu caminho até à Escola para dar aulas. A viagem foi, de longe, a parte mais fácil do projecto. Envolver-nos na comunidade, com as suas pessoas, e trocar experiências é o coração da "Ambulance for Hearts". Espero conseguir sorrir com esse coração.

Muito obrigado, Catió, pela recepção 🚑💕💕

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